sábado, 21 de junho de 2025

🙏🏻O milagre dos dias comuns

Dizer que cada dia é um milagre pode soar piegas em tempos cínicos. Vivemos numa era onde milagre é associado ao extraordinário, ao espetacular, ao que rompe as leis da lógica. Mas há um tipo de milagre que passa despercebido justamente por ser sutil demais: o de simplesmente estar vivo.

Acordar. Respirar. Sentir o cheiro do café. Ver a luz entrando pela janela. Trocar palavras com alguém. Ter a chance de recomeçar. Tudo isso, embora pareça corriqueiro, é um milagre que muitos só percebem quando perdem.

Nossa cultura da produtividade nos ensinou a desprezar o que é simples. Vivemos à caça de experiências inéditas, realizações grandiosas, momentos que rendam boas postagens. E, no meio disso, esquecemos que a vida não é feita só de ápices — mas de permanências. E que a constância de um dia comum, vivido com presença, é talvez um dos maiores milagres possíveis.

Enxergar cada dia como milagre é, portanto, um ato de resistência. É recusar o automatismo. É desacelerar o passo para perceber a vida pulsando no detalhe. É ter a humildade de reconhecer que nada nos é garantido — nem mesmo o próximo suspiro.

Essa visão não é alienada nem romântica. Pelo contrário, é profundamente lúcida. É entender que, entre a pressa de ontem e a ansiedade do amanhã, existe um hoje que não volta. E que talvez o milagre não seja a vida mudar — mas a gente mudar o jeito de olhar pra ela.

Quem aprende a enxergar o milagre dos dias, nunca mais vive por obrigação. Vive por gratidão.

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