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quarta-feira, 25 de junho de 2025

⏰O Tempo em que o Tempo Parava

Há uma saudade que não tem hora marcada para chegar. Ela vem de mansinho, sem alarde, mas se instala com força no peito quando menos esperamos. É a saudade de um tempo em que o tempo parecia não passar.

Não é que os dias fossem mais longos — talvez fossem, mas a verdade é que éramos nós que vivíamos com menos pressa. Havia uma delicadeza no modo como o mundo girava aos nossos olhos. As manhãs tinham gosto de pão na chapa e jornal na calçada. As tardes se esticavam como redes no quintal. E as noites… ah, as noites vinham devagar, com cheiro de colo e conversa sem celular entre as mãos.

Era um tempo de menos exigências e mais presença. De menos telas e mais olhos nos olhos. De menos produtividade e mais humanidade. E isso não é nostalgia idealizada — é constatação de que existia outro ritmo, mais pausado, mais sensível, mais atento às pequenas coisas.

O problema não está no avanço do tempo, mas na forma como passamos a habitá-lo. Corremos tanto em direção a alguma coisa que nem sabemos nomear, que esquecemos de viver o agora com plenitude. Substituímos encontros por mensagens rápidas. Risos por emojis. Histórias contadas por áudios acelerados.

E quando a saudade bate, ela não é apenas de um tempo cronológico. É de uma forma de existir. De caminhar sem atropelos. De escutar com calma. De viver os dias sem a sensação constante de que estamos devendo horas a algo ou a alguém.

Sentir falta desse tempo é, no fundo, um chamado. Um lembrete de que ainda é possível desacelerar. Que talvez a maior revolução não seja correr mais, mas reaprender a parar. Estar inteiro onde estamos. Respirar fundo antes de responder. Olhar para o céu sem a pressa de voltar a rolar a tela.

Porque o tempo nunca deixou de passar — fomos nós que deixamos de notar quando ele passou. E talvez ainda dê tempo de, ao menos por instantes, fazer o tempo parecer que não passa. Basta reaprender a viver de verdade.

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