A última gota d’água —
não é o grito, nem o soco na mesa.
Não é a explosão.
É o silêncio que vem depois.
É o suspiro longo,
a mala fechada,
o olhar que não volta mais.
Não é a raiva que nos tira,
é o cansaço.
A exaustão de explicar mil vezes
o que já deveria ser compreendido.
O peso de manter de pé
o que só se sustenta de um lado.
Raiva é impulso,
cansaço é fim.
Raiva pede resposta,
cansaço já não quer mais conversa.
É o corpo presente
e a alma que desistiu.
O cansaço é sutil,
mas definitivo.
Ele não quebra nada por fora,
mas desmonta tudo por dentro.
E quando chega,
não há mais argumentos —
há decisão.
Por isso, não se engane:
quem vai embora com calma
não está em paz,
está esgotado.
E o que mata um vínculo
não é o conflito,
é a repetição dele.
É a promessa não cumprida,
o cuidado não dado,
o afeto que cansa de esperar.
A última gota d’água
não é um estouro,
é um basta mudo.
É o fim que se forma
gota a gota,
até transbordar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário