sexta-feira, 20 de junho de 2025

💧A Última Gota

A última gota d’água —

não é o grito, nem o soco na mesa.

Não é a explosão.

É o silêncio que vem depois.

É o suspiro longo,

a mala fechada,

o olhar que não volta mais.

 

Não é a raiva que nos tira,

é o cansaço.

A exaustão de explicar mil vezes

o que já deveria ser compreendido.

O peso de manter de pé

o que só se sustenta de um lado.

 

Raiva é impulso,

cansaço é fim.

Raiva pede resposta,

cansaço já não quer mais conversa.

É o corpo presente

e a alma que desistiu.

 

O cansaço é sutil,

mas definitivo.

Ele não quebra nada por fora,

mas desmonta tudo por dentro.

E quando chega,

não há mais argumentos —

há decisão.

 

Por isso, não se engane:

quem vai embora com calma

não está em paz,

está esgotado.

E o que mata um vínculo

não é o conflito,

é a repetição dele.

É a promessa não cumprida,

o cuidado não dado,

o afeto que cansa de esperar.

 

A última gota d’água

não é um estouro,

é um basta mudo.

É o fim que se forma

gota a gota,

até transbordar.

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