“Qual a sua responsabilidade na desordem da qual você se queixa?”
A pergunta de Freud não é apenas provocativa. Ela é um espelho — e poucos têm coragem de encará-lo.
Vivemos numa cultura em que terceirizar a culpa virou esporte. O governo, a sociedade, o tempo, o outro. Sempre há algo ou alguém a quem atribuir nossos desconfortos, nossos fracassos, nossos vazios. Reclamamos do caos, mas muitas vezes somos parte dele — alimentando-o com nossas omissões, nossos silêncios convenientes, nossos hábitos mal resolvidos.
A desordem, seja interna ou externa, raramente nasce do nada. Às vezes, ela é cultivada nos pequenos descuidos: quando aceitamos o que nos fere, quando prorrogamos decisões importantes, quando escolhemos o caminho mais fácil em detrimento do mais verdadeiro.
É mais confortável culpar o mundo do que admitir que, em muitos momentos, fomos permissivos com aquilo que hoje nos incomoda. Que ignoramos os sinais. Que nos calamos quando devíamos agir. Que priorizamos a aparência em vez da essência.
Responsabilizar-se não é autoflagelo. É maturidade. É reconhecer que, embora nem tudo esteja sob nosso controle, muita coisa depende de onde colocamos nossos pés, nossas escolhas e nossa voz.
Então, antes de mais uma queixa, talvez seja o caso de se perguntar com honestidade:
O que eu estou permitindo continuar?
De que modo eu contribuo para o caos que tanto me desgasta?
Assumir a própria parcela de responsabilidade não é se culpar — é se libertar.
Porque só se pode transformar aquilo que se reconhece como parte sua.
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