Uma crônica reflexiva
Há uma estranha urgência no mundo em nos fazer escancarar tudo: o que sentimos, o que comemos, com quem estamos, para onde vamos, o que sonhamos. Como se a vida precisasse de provas constantes de que está sendo vivida. Como se os momentos só tivessem valor depois de expostos.
Mas há um poder silencioso na reserva.
Uma força discreta em não dizer tudo.
Ser reservado não é ser frio. Nem distante.
É ter a sabedoria de que nem tudo que é seu deve ser oferecido ao olhar alheio.
Porque, infelizmente, nem todo mundo te quer bem.
Alguns torcem para que você erre.
Outros fingem torcida só para ver de perto sua queda.
Há quem se alimente da sua exposição como um banquete — não para celebrar, mas para julgar, comparar, invejar.
Ser reservado é como manter a porta entreaberta: entra quem realmente merece, quem respeita o espaço, quem entende o valor do silêncio.
É saber escolher para quem se conta os planos, as dores, as conquistas.
É proteger aquilo que ainda está em crescimento, como quem guarda uma semente antes que o mundo pise sobre ela.
Não é sobre desconfiança, mas sobre cuidado.
Não é sobre medo, é sobre discernimento.
Aprendemos, às vezes tarde demais, que o olhar de fora pode contaminar o que dentro ainda está se formando.
E que algumas palavras, ditas cedo demais ou a ouvidos errados, perdem a força que teriam se ditas no tempo certo, ao coração certo.
Então, seja reservado.
Fale menos. Observe mais.
Nem todo mundo merece acesso ao seu mundo interior.
E isso não te faz menos generoso — te faz mais inteiro.
Resguardar-se também é uma forma de amor próprio.
E em tempos tão barulhentos, ser silêncio é um ato de coragem.
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