A poesia é suave, mas visceral.
Toca, atinge, rasga.
Há algo de paradoxal na poesia — ela sussurra e grita ao mesmo tempo. É como uma brisa que carrega um punhal. De fora, pode parecer leve, delicada, quase etérea. Mas por dentro, ela abre fendas que a razão jamais alcançaria sozinha.
A suavidade da poesia está na forma: palavras escolhidas com cuidado, ritmos que dançam, silêncios entre as linhas. É como se ela vestisse a dor com tecidos de seda. Mas essa mesma dor, quando nomeada com beleza, revela-se ainda mais profunda. A poesia tem o dom de tornar suportável o insuportável — e, ao fazer isso, ela não anestesia, ela revela. Ela é o bisturi que corta com elegância, mas ainda assim corta.
Tocar é o seu começo. Um verso encosta na pele, uma imagem acende a memória, uma metáfora provoca um arrepio. Atingir é o meio: o leitor se encontra dentro do texto, ou diante de si mesmo, nu. E rasgar… ah, rasgar é o que vem depois — quando, sem aviso, algo dentro se parte. É quando o leitor se dá conta de que não leu apenas um poema, mas foi lido por ele.
Poesia não é só para entender. É para sentir. E, às vezes, sentir dói. Mas é dessa dor que renasce o sentido de estar vivo.
Porque o que é visceral não pode ser ignorado.
E o que é suave pode, justamente por isso, entrar mais fundo.
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