Existe um desconforto peculiar em olhar a verdade de frente. É como encarar o espelho em um daqueles dias em que não queremos ver quem realmente somos. A sociedade, muitas vezes, funciona assim: prefere os filtros, as meias-verdades, as ilusões cuidadosamente embaladas.
A frase de George Orwell escancara uma realidade antiga, mas cada vez mais visível: quanto mais nos afastamos da verdade, mais odiamos quem ousa nos lembrar dela. Porque a verdade dói. A verdade não passa a mão na cabeça, não oferece anestesia, não é simpática. Ela chega crua, sem maquiagem, sem suavizar as bordas daquilo que não queremos admitir.
E quem carrega essa missão — de abrir os olhos alheios — sabe o peso que isso traz. São os inconvenientes, os chatos, os indigestos. Gente que não aprende a se calar quando o mais confortável seria simplesmente fingir que não viu.
Por isso, quem fala a verdade carrega dois fardos: o da própria lucidez e o da rejeição. Porque ser portador da verdade é, muitas vezes, ser exilado do conforto coletivo. A verdade rompe pactos silenciosos, questiona o que foi combinado, desconstrói certezas.
Mas, curiosamente, a história sempre foi feita — e refeita — pelos que ousaram falar o que muitos se esforçavam para não ouvir. Foram os incômodos que moveram o mundo. Foram os rebeldes da palavra, os teimosos da consciência, que reacenderam a chama da clareza quando tudo parecia mergulhado na sombra.
Então, talvez a pergunta não seja se a verdade dói. A pergunta é: até quando vamos preferir o conforto da mentira ao desconforto da liberdade?
Porque, no fim, fugir da verdade não a faz desaparecer. Apenas a torna mais cara… e mais urgente.
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