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quinta-feira, 19 de junho de 2025

⏳A verdade é filha do tempo

Análise crítico-reflexiva

A frase “A verdade é filha do tempo”, atribuída a diversos pensadores ao longo da história, condensa uma das ideias mais profundas e paradoxais da condição humana: a verdade, por mais silenciada que seja, encontra no tempo seu aliado mais fiel. Mas, como bem observa o texto apresentado, esse “tempo” não é exato, tampouco previsível. É um tempo sem calendário, sem cronômetro, um tempo que amadurece revelações conforme o terreno está pronto para recebê-las — e isso, por si só, já é um convite à reflexão.

A verdade não depende da vontade humana para existir. Ela é. Independentemente de ser percebida, aceita ou negada. Sua essência está ligada à realidade mais nua, àquilo que subsiste mesmo quando ninguém olha. Porém, o que complica essa equação é que os olhos humanos veem a verdade através de filtros: do medo, do orgulho, da conveniência, da cultura, das narrativas dominantes. Por isso, a verdade muitas vezes não vem à tona de imediato. Ela precisa do tempo — esse agente invisível e implacável — para que se dissolvam as névoas do engano.

Há, no entanto, um aspecto incômodo: o tempo da verdade não costuma coincidir com o tempo do desejo humano. Desejamos respostas rápidas, justiça imediata, revelações instantâneas. Mas o tempo da verdade tem seu próprio compasso. Em certos contextos, ela só se mostra quando já causou cicatrizes, quando os erros já floresceram em tragédia, quando as máscaras caem por gravidade — e não por escolha.

E ainda assim, mesmo dolorosa, a verdade tem um valor sagrado. Porque é sobre ela que se constrói a confiança, a memória, a justiça e a própria identidade humana. Negar a verdade é como negar a estrutura que sustenta uma ponte: pode-se continuar andando por um tempo, mas uma hora tudo ruirá.

Ocultar a verdade, por conveniência ou medo, não a apaga — apenas adia seu impacto. E quanto mais se posterga, mais abrupta e cruel ela tende a ser. Por isso, o texto acerta ao dizer que a verdade tem credencial: ela carrega a força de se impor, cedo ou tarde. Ela não pertence ao esquecimento, mas à revelação. E não se pode abandonar a verdade sem, de alguma forma, abandonar a si mesmo.

No fim, compreender que “a verdade é filha do tempo” é aceitar que há coisas que só se revelam quando estamos prontos — ou quando não há mais como evitá-las. E que viver na direção da verdade, mesmo sem saber quando ela se mostrará plenamente, é sempre um ato de coragem e respeito à própria vida.

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