A gente cresce ouvindo que ser honesto é virtude. Que falar a verdade é sempre o melhor caminho. E, de fato, é. Mas ninguém avisa que existe um detalhe oculto nesse conselho aparentemente simples: nem toda verdade precisa — ou deve — ser dita.
Porque a verdade, apesar de ser um valor, também pode ser uma lâmina. E, nas mãos erradas, corta mais do que esclarece. Às vezes, ela não vem como luz, vem como pedra. E, vamos ser sinceros, tem verdades que são ditas não por compaixão, mas por vaidade, por crueldade disfarçada de sinceridade, ou até por aquela velha arrogância de quem acha que tudo o que pensa precisa ser anunciado ao mundo.
“Eu só estou sendo sincero”, dizem alguns, enquanto despejam julgamentos que, mais do que ajudar, ferem. E, nesse ponto, sinceridade deixa de ser virtude e se torna descarga de ego.
Não é sobre mentir, nem sobre fingir que o mundo é um lugar fofo e sem atrito. É sobre escolher. Dosar. Avaliar. Perguntar a si mesmo: essa verdade constrói ou destrói? Esclarece ou humilha? Serve ao outro ou só alimenta meu próprio desejo de ter razão?
O silêncio, às vezes, é mais ético do que a fala. É uma forma de cuidado. De não dizer aquilo que, embora seja verdade, não vai fazer bem. É aquele comentário sobre a aparência que não precisa ser feito. É aquela crítica que, no fundo, não acrescenta. É aquela opinião que ninguém pediu — e que, se vier, não vai mudar nada além do humor alheio.
A vida já é cheia de espinhos. A gente não precisa ser mais um.
E, curioso, quanto mais o tempo passa, mais eu percebo que as pessoas mais sábias não são aquelas que dizem tudo o que sabem, mas aquelas que sabem exatamente quando falar… e, sobretudo, quando não dizer nada.
Talvez seja isso. A maturidade mora nesse lugar delicado entre a verdade que liberta e o silêncio que preserva. Porque, no fim, como bem disse Voltaire, tudo o que você diz deve ser verdade… mas nem toda verdade precisa ser dita.
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