Engraçado como a tal da felicidade virou quase uma entidade mística. Está sempre em algum lugar — só não aqui. Está no diploma que falta, no emprego que não veio, no amor que ainda não chegou, no dinheiro que nunca é suficiente, na viagem que sempre fica para depois. E assim seguimos, feito andarilhos de promessa, arrastando nossos dias com a esperança pendurada no pescoço, como quem carrega um amuleto que nunca funciona.
Vivemos alimentados por discursos que romantizam o depois. O “quando”. Quando eu tiver, quando eu for, quando eu conseguir, quando eu mudar, quando eu me aposentar, quando der certo. E assim, a felicidade vai sendo terceirizada, empurrada pra frente, como se ela fosse uma espécie de prêmio — daqueles que só os mais persistentes, produtivos e bem-sucedidos merecem.
Mas e se ela não estiver no depois? E se ela não for um destino? E se, na verdade, ela estiver passando, agora, bem aqui, disfarçada de café quente, de conversa boba, de pôr do sol no meio do trânsito, de um abraço que chegou sem avisar?
A questão é que nos ensinaram errado. Fizeram a gente acreditar que a felicidade tem a ver com grandes conquistas, com medalhas, com estéticas perfeitas, com estilos de vida de vitrine, desses que mais parecem cenários de propaganda do que vida real. E nessa busca cega, não percebemos que, na verdade, somos sugados para um ciclo que nunca fecha — uma esteira infinita de insatisfação.
Enquanto isso, o agora vai sendo tratado como um rascunho. Um intervalo. Uma espera. E a vida, essa que a gente vive adiando, vai escorrendo entre os dedos, silenciosa, sem fazer alarde.
Felicidade não é um troféu. É um detalhe. Um instante. É perceber que nem tudo precisa estar perfeito pra estar bom. É entender que a vida é cheia de rachaduras, e talvez seja justamente por elas que a luz entra.
Mas é claro, reconhecer isso exige um certo desapego dessa ilusão coletiva que vendem por aí. Requer coragem pra desacelerar, pra sair da lógica do “falta sempre alguma coisa” e começar a enxergar que, às vezes, o que falta mesmo… é só a gente olhar.
E talvez — só talvez — seja por isso que a felicidade parece tão difícil de alcançar. Porque ela nunca esteve no futuro. Ela sempre morou no presente. Só que, distraídos, a gente quase nunca passa por lá.
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