Vivemos como se o tempo fosse algo que se guarda num cofre ou que se empilha em prateleiras.
Agimos como se ele fosse infinito, como se pudéssemos adiar tudo: os afetos, os sonhos, as conversas sinceras, os recomeços.
Mas o tempo, esse senhor antigo e impaciente, não espera ninguém.
Estamos sempre correndo — mas para onde, exatamente?
Apressados, fragmentamos o tempo em tarefas, em metas, em notificações, em reuniões que parecem importantes, mas que muitas vezes não dizem nada.
E nessa divisão apressada da vida, vamos nos afastando daquilo que realmente importa.
Porque não se mede um bom dia pela quantidade de tarefas realizadas, mas pela presença que conseguimos oferecer a nós mesmos e aos outros.
O tempo não é um bloco único.
Ele se apresenta em fragmentos: o olhar trocado na fila do mercado, a mensagem inesperada de alguém que a gente ama, o silêncio confortável entre dois amigos, o cheiro de comida que lembra a infância, o pôr do sol que insiste em acontecer mesmo que ninguém pare para olhar.
São esses instantes aparentemente pequenos que carregam a densidade do que é viver.
E, no entanto, seguimos como se viver fosse uma corrida contra o relógio.
Criamos uma cultura onde descansar é quase um pecado, e desacelerar, um sinal de fraqueza.
Nos orgulhamos da agenda cheia e esquecemos que o vazio, às vezes, é um convite para respirar.
O problema é que, ao tentar abraçar tudo, deixamos escapar o essencial.
Minha opinião — e talvez minha esperança — é que ainda dá tempo de reverter esse caminho.
De reaproximar-se da lentidão, do ócio criativo, das conversas com pausas.
De dar valor ao tempo que não produz, mas nutre.
De recolher esses fragmentos e entender que são eles que formam a memória, a saudade, a beleza.
Que são eles que, no fim, farão valer a jornada.
O tempo nunca será inteiro.
Ele é feito em partes, em pedaços vividos com verdade.
E só quem aprende a perceber os fragmentos consegue, de fato, saborear o que é eterno — mesmo que dure apenas um instante.
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