domingo, 15 de junho de 2025

A Janela das Crônicas

Tem gente que olha o mundo pela televisão.

Outros, pelas redes sociais.

Há ainda os que vivem com os olhos voltados apenas para dentro, imersos em si mesmos.

Mas há um tipo raro de pessoa que insiste em olhar o mundo por uma janela mais antiga, mais sensível, mais poética: a janela das crônicas.


Essa janela não é de vidro, mas de palavras.

É por ela que se vê o cotidiano com olhos mais lentos, mais atentos.

Um banco na praça vira cenário de reencontro.

Um café derramado na mesa, a metáfora perfeita para um dia difícil.

Um silêncio entre dois conhecidos, matéria-prima para falar sobre o que nunca é dito, mas sempre sentido.


A crônica é essa fresta aberta na correria dos dias.

Ela não quer provar nada, resolver nada, ensinar fórmulas.

Quer apenas narrar o instante, capturar a delicadeza escondida no que parece comum.

E ao fazer isso, nos lembra de que a vida não é feita só de grandes eventos, mas de pequenas epifanias.

De suspiros, tropeços, saudades e descobertas.


Quem escreve crônicas tem um pouco de espião da alma humana.

Fica observando o mundo pelas frestas do cotidiano.

Anota sorrisos, recolhe silêncios, traduz olhares.

Quem lê, entra pela mesma janela e reconhece a si mesmo — às vezes num detalhe, noutras vezes num desabafo inteiro.


Na janela das crônicas, os dias não passam em branco.

Mesmo os dias nublados ganham cor.

Porque essa janela nos ensina que toda vida tem poesia.

Basta ter coragem de olhar com calma.


E talvez seja isso o mais bonito nas crônicas:

elas não mudam o mundo — mas mudam a maneira como olhamos pra ele.

E isso, em certos dias, já é mais do que suficiente.

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