O tempo não tem ré. Nem marcha lenta. Nem retorno na esquina.
Ele segue, como um rio que não deságua no mesmo lugar, como o vento que sopra e nunca volta no mesmo sopro. E, ainda assim, a gente teima em achar que pode negociar com ele — como quem tenta convencer a areia a não escorrer entre os dedos.
Quando somos crianças, acreditamos que o tempo é uma promessa infinita. Adiamos, empurramos, deixamos pra depois. Depois eu ligo, depois eu volto, depois eu cuido. Crescemos e, num estalo, percebemos que o depois se tornou um silêncio que mora onde antes havia vozes, risadas e presenças.
O tempo só anda de ida. E, quando entendemos isso, começamos a olhar diferente para as pequenas coisas. O café que esfria, o abraço que demora, a palavra que não foi dita. Tudo carrega uma urgência delicada — não a urgência da pressa, mas a da presença.
E o que fazemos, então, com essa linha reta que não volta? Talvez a resposta seja simples e, ao mesmo tempo, profunda: estar inteiro em cada agora. Amar sem medida, rir sem ensaio, errar sem culpa, consertar o que der e seguir — sabendo que cada passo é único, cada cena é uma estreia sem repetição.
O tempo não espera. Não pede licença. Ele passa, indiferente às nossas vontades. Mas talvez, se formos atentos, possamos fazer algo bonito com esse breve intervalo entre o nascer e o partir.
Afinal, como disse Manoel de Barros — poeta das coisas miúdas e dos silêncios — o tempo só anda de ida. E é justamente por isso que viver, de verdade, é uma arte urgente.
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