Houve um tempo em que o telefone não cabia no bolso. Era fixo, com fio, preso na parede da sala ou no cantinho da cozinha. E, curiosamente, naquele tempo, as pessoas eram mais soltas, mais livres… mais presentes.
O telefone tocava e, se ninguém atendesse, tudo bem — quem ligou que tentasse depois. Ninguém surtava. Não existia essa urgência do “visualizado e não respondeu”, nem o peso do “online há dois minutos e me ignorou”. As conversas tinham começo, meio e fim. E, quando acabavam, as pessoas desligavam não só o aparelho, mas também a preocupação.
A vida acontecia lá fora, no quintal, na rua, na praça. As notícias chegavam no tempo certo, e não no ritmo frenético das notificações. A gente olhava nos olhos, não para telas. Os encontros eram combinados na confiança e cumpridos no compromisso — não havia mensagem de última hora pra cancelar.
Curioso, não? Na época em que o telefone era preso por um fio, parecia que as pessoas eram mais livres. Livres do excesso, da ansiedade, da necessidade constante de responder, provar, aparecer.
Hoje, o fio sumiu, o aparelho virou extensão da mão. E, no entanto, parece que quem ficou preso fomos nós: presos nas redes, nas notificações, nos algoritmos que decidem o que vemos, pensamos e, muitas vezes, até quem somos.
Talvez seja hora de puxar o fio da memória e lembrar: liberdade nunca esteve na tecnologia, mas sim na escolha de viver com presença, afeto e intenção. Porque conexão de verdade nunca precisou de sinal, só de disponibilidade.
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