Numa esquina movimentada da cidade, uma moça escrevia num caderno de capa azul enquanto tomava um café apressado. Em frente a ela, a cidade corria: buzinas, celulares, olhares perdidos.
Ali, no meio do caos cotidiano, um texto nascia.
E, como sempre, ele não era só sobre palavras — era sobre o mundo.
A força de um texto não está apenas em sua forma, mas no que ele carrega: memória, crítica, dor, ternura, ironia, denúncia, afeto, saudade. Em outras palavras, vida.
Tudo pode caber num texto — desde que haja alguém disposto a olhar com sensibilidade.
Pode caber uma notícia, sim, dessas que informam e nos deixam pensando por horas.
Mas também cabe um bilhete de amor deixado na porta da geladeira, uma crônica sobre o cheiro do pão da infância, uma confissão em tom de desabafo, uma revolta transformada em argumento.
Cabe o morador de rua que ninguém vê, a estudante que perdeu o ônibus e a paciência, o pai exausto que não sabe demonstrar afeto, o filho que guarda perguntas sem resposta.
Cabe a alegria do reencontro, a solidão de um fim de tarde, a dor da despedida, o susto com o noticiário.
Cabe também um alerta, um suspiro, uma provocação.
E cabe silêncio — esse que a gente escreve quando não tem coragem de dizer.
Na redação de um jornal, numa sala de aula, num diário antigo, nas redes sociais ou num guardanapo amassado: um texto sempre será abrigo.
Abrigo do que se sente e não se sabe explicar.
Abrigo do que se precisa denunciar.
Abrigo do que não pode se perder.
Aprendi que escrever é mais do que contar histórias — é também um modo de escutar o mundo.
E que cada vez que alguém escreve com verdade, transforma o banal em beleza, o cotidiano em resistência.
Por isso, sim: tudo cabe num texto.
Mas só cabe bem se for escrito com humanidade.
O papel aceita tudo, é verdade.
Mas o coração do leitor… esse só aceita o que vem de outro coração.
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