“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.” Vinícius de Moraes escreveu isso como quem já sabia que a existência é feita de caminhos que se cruzam — e também se perdem. Que o mistério da vida mora justamente nesse vai e vem de gente, nessa dança meio desajeitada entre o que se busca e o que se encontra sem querer.
Encontro é mais do que esbarrar. É quando duas presenças se reconhecem no meio da pressa. Pode ser um abraço num dia ruim, uma conversa que salva, um olhar que segura a alma por instantes. É aquele amigo que chega quando ninguém mais vê, é o amor que vem quando a gente já não esperava, é até o desconhecido que, por um segundo, nos faz sentir em casa.
Mas a vida também é feita dos desencontros — e talvez seja por isso que os encontros valham tanto. Tem gente que passa por nós e fica só o silêncio. Tem histórias que quase foram, palavras que quase dissemos, afetos que quase viraram morada. E tudo isso nos ensina alguma coisa: que nem tudo é para durar, mas tudo é para ensinar.
Há encontros que são porto, e há os que são tempestade. Uns chegam pra somar, outros pra mostrar o quanto ainda precisamos de nós mesmos. Há quem venha nos curar, e há quem venha nos despedaçar — mas até isso é arte, porque até os cacos têm a forma do que fomos.
Talvez viver seja isso: uma tentativa constante de se encontrar nos outros, sem nunca se perder de si. Porque, no fim, todo encontro verdadeiro começa com a coragem de estar inteiro, ainda que a vida insista em nos fragmentar.
E apesar dos desencontros, seguimos. Porque sabemos — mesmo sem saber direito — que um dia, em alguma esquina da existência, vamos esbarrar em algo ou alguém que faça sentido. E nesse instante breve e eterno, a vida, enfim, se justifica.
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