sábado, 14 de junho de 2025

A Sombra Que Te Acolheu

“Não use a árvore que um dia te deu sombra como lenha.”

E não — eu não estou falando de árvores.


Falo de gente.

De momentos.

De histórias que nos abrigaram quando o sol estava quente demais e o mundo parecia grande demais para os nossos pés cansados.


Falo daquela amizade que foi porto.

Daquele amor que um dia foi abrigo.

Daquele gesto que veio no tempo certo, mesmo que a relação tenha seguido por caminhos diferentes depois.


A vida anda acelerada. E, com ela, nossa pressa em apagar o que não serve mais. Somos treinados para descartar: roupas, celulares, afeições. Cortamos vínculos como quem troca de estação. Desfazemos laços como quem apaga um arquivo velho — e esquecemos que, por trás de tudo, havia memória. Havia afeto. Havia intenção.


Talvez aquela pessoa já não esteja mais ao seu lado. Talvez tenha errado. Talvez vocês tenham se perdido um do outro. Mas houve um tempo em que ela foi sombra em dia de sol forte. E só por isso, já merecia um pouco mais de respeito.


A ingratidão é silenciosa, mas deixa marcas profundas.

Ela surge quando transformamos em desprezo aquilo que já foi abrigo.

Quando reviramos histórias antigas para arrancar lenha de mágoa onde só deveria haver gratidão.


Não se trata de romantizar tudo. Não se trata de manter vínculos a qualquer custo. Trata-se apenas de lembrar que nem tudo precisa terminar em ruína. Às vezes, o que a gente precisa é deixar ir — mas com cuidado. Com reverência. Com a delicadeza de quem entende que algumas pessoas foram essenciais, mesmo que só por um trecho do caminho.


Então, da próxima vez que pensar em queimar pontes, silencie.

Lembre-se da sombra.

Do gesto.

Do abrigo que, um dia, foi tudo que você precisava.


E escolha sair com respeito, não com cinzas nos pés.

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