domingo, 15 de junho de 2025

Aleatório, Porém Interessante

Foi num desses dias comuns, sem começo promissor nem promessa de final épico, que eu me peguei observando um formigueiro. Sim, um formigueiro. Ali, no canto da calçada, entre a sombra de um muro e a pressa do mundo.

As formigas carregavam pedaços de folhas, farelos de pão, um pedaço de palha que parecia grande demais pra qualquer uma delas. Mas, mesmo assim, iam. Em fila. Em esforço. Em silêncio. Aquilo, aleatório que fosse, me prendeu.

A cidade ao redor fervia. Carros, buzinas, gente reclamando da vida. E ali, naquela cena minúscula, havia algo profundamente… interessante.

Comecei a pensar na quantidade de momentos que a gente despreza por parecerem “pequenos demais”, “bobos demais”, “aleatórios demais”.

Como se só o extraordinário valesse o olhar atento.

Como se tudo precisasse de propósito, performance, publicação.

Mas e se for justamente no aleatório que a vida se revela com mais verdade?

Aquela criança que inventa um idioma próprio só pra conversar com a planta da sala.

O velhinho na praça que sempre desenha mapas de lugares que só ele conhece.

A moça do ônibus que muda o caminho só pra ver o céu do outro lado da cidade.

A conversa que surge entre dois desconhecidos por conta de um livro esquecido num banco.

São cenas soltas. Pedaços de vida.

E no entanto, dizem tanto.

Porque, veja bem, o interessante não está apenas no que é grande, importante, planejado.

O interessante — talvez o mais bonito — esteja naquilo que acontece quando a gente não está esperando.

Na gargalhada fora de hora.

Na memória que volta por causa de um cheiro.

Na flor que nasce na rachadura do concreto.

Vivemos tentando dar sentido a tudo.

Mas talvez a beleza da vida seja justamente essa: ela não precisa fazer sentido o tempo inteiro.

Só precisa acontecer.

E, se a gente estiver minimamente atento, vai perceber: o aleatório, quase sempre, é um convite silencioso para enxergar o que realmente importa.

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