domingo, 15 de junho de 2025

Da Janela Pra Dentro, Da Vida Pra Fora

Tem gente que vive com a janela fechada — da casa, do peito, do pensamento.

Tem medo do vento, da luz, da vista, do imprevisível. Prefere o conhecido, o ar reciclado, o controle.

Mas viver mesmo, aquele verbo cheio de imperfeições e surpresas, exige um pouco de janela aberta.


Olhar pra fora é mais do que enxergar o mundo: é reconhecer que há vida além da nossa rotina.

Gente indo, vindo, sentindo. Histórias cruzando a rua, esperanças se equilibrando na beira da calçada.

A vida pulsa do lado de fora.

E, no entanto, só conseguimos realmente percebê-la quando olhamos também pra dentro.


Porque não adianta abrir a janela se o coração permanece trancado.

E não adianta se fechar por dentro enquanto o mundo clama por presença e participação.


Da janela pra dentro, enfrentamos nossos ruídos, dúvidas, saudades, vontades mal resolvidas.

É o espaço onde a gente se escuta — ou, ao menos, tenta.

É onde se remenda o que ficou mal costurado.

É onde se aprende a nomear o que sentimos sem ter que explicar pra ninguém.


Mas não se vive só de introspecção.


Da vida pra fora, é preciso agir. Sair de si. Escutar o outro.

É onde se aplica o que se aprendeu na solidão.

Onde se compartilha o que se cultivou no silêncio.

Onde se entende, finalmente, que só faz sentido mergulhar em si mesmo quando se emerge com algo para oferecer.


Vivemos num tempo curioso: conectados com o mundo inteiro, mas muitas vezes desconectados de nós mesmos.

Abrimos janelas digitais, mas esquecemos de olhar pela janela real.

Falamos com centenas, mas não perguntamos a nós mesmos como realmente estamos.


É por isso que acredito: o caminho é duplo.

Janela pra dentro, pra nos reconhecer.

Vida pra fora, pra nos reconstruir.


O que sentimos não pode ser prisão.

O que pensamos não pode ser muro.

É preciso deixar que a brisa entre. Que a luz nos toque. Que o mundo nos transforme — e que, em troca, a gente transforme um pedacinho dele também.


Afinal, viver não é apenas existir no próprio canto. É permitir que o que há da janela pra dentro seja ponte para algo maior da vida pra fora.

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