Sigo me curando de coisas que eu não merecia.
E talvez essa seja uma das jornadas mais silenciosas e solitárias que alguém pode viver.
Porque não é fácil lidar com aquilo que veio de fora, com a dor que nos entregaram sem que pedíssemos, com as marcas que ficaram mesmo quando a gente só queria amor, respeito ou compreensão.
Há traumas que não foram causados por nossas escolhas, mas por ausências, por palavras mal ditas, por descuidos de quem não soube cuidar.
E ainda assim, o peso da cura caiu sobre nós.
Mas curar-se não é concordar.
Curar-se não é esquecer.
Curar-se é escolher seguir, mesmo sem as respostas que queríamos.
É cuidar do próprio coração como ninguém cuidou.
É aprender a ser abrigo depois de ter sido expulso de tantos.
Sim, seguimos curando o que não merecíamos sentir.
E essa é a maior prova de força: não deixar que a dor que veio de fora destrua o que temos por dentro.
Cicatrizar é um ato de amor próprio.
E continuar — inteiro, sensível e humano — é resistência.
Porque quem se cura do que não mereceu, merece uma vida leve, firme e profundamente livre.
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