Há um espaço invisível entre um pensamento e outro. Um intervalo tão breve que mal se nota, mas tão profundo que, se a gente mergulha, talvez encontre respostas que nem sabia que procurava.
É nesse intervalo que mora o silêncio verdadeiro — não o da boca fechada, mas o da alma que observa.
A vida se esconde ali, entre o que já passou pela mente e o que ainda está por vir.
Entre um pensamento e outro, às vezes passa o vento, balançando cortinas, folhas e certezas.
Passa uma lembrança antiga, com cheiro de infância e gosto de tarde ensolarada.
Ou uma saudade repentina, daquelas que chegam sem aviso e se instalam por uns minutos, feito visita inesperada.
É nesse intervalo que a gente se escuta.
Que sente o corpo, o peso dos ombros, o ritmo da respiração.
Que nota a luz entrando pela fresta da janela, a poeira dançando no ar, o tic-tac do relógio marcando um tempo que corre, mas que ali parece suspenso.
A maioria das pessoas vive saltando pensamentos como quem pula pedras num rio.
Mas há quem pare no meio da travessia e se dê conta de que o rio também canta, também brilha, também ensina.
Entre um pensamento e outro, pode nascer um poema.
Uma decisão. Um perdão. Um recomeço.
Talvez o que mais nos falte hoje não seja tempo, mas pausa.
A coragem de não preencher tudo.
De deixar um espaço em branco.
De habitar o intervalo com presença.
Porque é ali, entre um pensamento e outro, é que a gente se encontra com o que é essencial.
E às vezes, com sorte, até com a gente mesmo.
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