Sabe aquele amor que parecia ter tudo pra ser, mas nunca passou de uma troca de olhares? Aquela viagem que você planejou mil vezes na mente, pesquisou roteiros, olhou preços de passagens, mas… não foi. Aquele emprego dos sonhos que ficou só no quase. O encontro que foi desmarcado. O abraço que ficou para depois — e o depois nunca veio.
Durante muito tempo, achei que essas não-histórias fossem apenas frustrações. Buracos no caminho. Mas, aos poucos, percebi que o que não acontece também tem seu papel. É silêncio que ensina. É ausência que instrui. É espaço vazio que revela o que realmente importa.
Às vezes, o que não aconteceu me protegeu. De um caminho torto, de um sofrimento que eu nem sabia que existia ali, de uma escolha que teria me desviado de mim mesmo. Outras vezes, o que não aconteceu me fez crescer. Me ensinou a lidar com a espera, a frustração, o desapego e até com essa mania que a gente tem de achar que tudo deveria ser do nosso jeito, na nossa hora.
E, no fundo, entendo que assim como há coisas que acontecem por alguma razão, há outras que, por alguma razão, não acontecem. E não é sobre desistir, nem sobre aceitar tudo de braços cruzados. É sobre entender que há forças maiores do que nossa vontade imediata. É sobre confiar que o que é pra ser, encontra seu caminho — e o que não é, se dissolve no tempo, como as ondas desfazem os castelos de areia.
Talvez a vida seja feita, também, dos espaços que ficam. Dos encontros que não foram, dos bilhetes que não chegaram, dos portões que não se abriram. E, quem sabe, seja exatamente aí, nesse vácuo de possibilidades, que a gente aprende a olhar para dentro, ouvir o silêncio e entender que a vida não é só o que se faz, mas também tudo aquilo que, sabiamente, deixa de ser.
"Assim como há coisas que acontecem por alguma razão, há outras que por alguma razão não acontecem."
- Gabriel Garcia Márquez
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