domingo, 15 de junho de 2025

O Que Não Se Vê

Se a vida fosse um livro aberto, talvez a gente lesse o outro com mais calma.

Se o coração tivesse vitrines, talvez enxergássemos além dos gestos apressados, dos sorrisos mecânicos, das respostas curtas.

Mas não tem.

Cada um carrega o que não se vê.

Um cansaço escondido atrás de um “tá tudo bem”.

Uma saudade disfarçada de silêncio.

Uma angústia travestida de grosseria.

Há guerras internas acontecendo agora, ao nosso lado, sem que percebamos.

E ainda assim, cobramos o tempo certo, a palavra certa, o humor certo.

Como se todos tivessem a obrigação de estar bem o tempo inteiro.

Como se fragilidade fosse sinônimo de fraqueza — e não de humanidade.

Talvez, se conseguíssemos espiar por um segundo o que se passa dentro do outro, nos calaríamos antes de julgar.

Talvez pediríamos desculpa com mais frequência.

Ofereceríamos um abraço antes de oferecer uma crítica.

Faríamos menos perguntas inquisitivas e mais perguntas gentis: Você está mesmo bem? Posso te ajudar com alguma coisa?

Nem sempre podemos resolver o caos alheio.

Mas quase sempre podemos não piorá-lo.

Às vezes, tudo o que alguém precisa é de um pouco de gentileza.

Não aquela grandiosa, que exige esforço e tempo — mas a pequena, cotidiana, quase invisível.

Um “bom dia” que não seja automático.

Um elogio verdadeiro.

Uma escuta sem interrupção.

Uma palavra que não salva, mas sustenta.

Se não pudermos curar, que ao menos não machuquemos mais.

Se não soubermos o que dizer, que nossa presença não pese.

A vida já é dura demais pra tanta gente.

Ser leve, às vezes, é a forma mais bonita de amar o mundo — mesmo sem entendê-lo por completo.

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