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segunda-feira, 2 de junho de 2025

Portas disfarçadas de papel

Há dias em que o corpo precisa ficar. A rotina aperta, a conta não fecha, a chuva cai, o trabalho exige ou, simplesmente, a vida não permite ir. E é exatamente nesses dias que os livros se tornam portas disfarçadas de papel.

Abrir um livro é como destrancar uma casa que sempre esteve ali, esperando por você. E não importa se é um romance, um suspense, uma poesia ou uma velha enciclopédia esquecida na estante — cada página é um degrau que leva para outro lugar.

Num instante, você deixa o sofá da sala e pisa descalço numa praia na Grécia. Na linha seguinte, atravessa desertos, escala montanhas, caminha por ruas que só existem no mapa da imaginação. De repente, você não é mais só você. É detetive, é viajante, é rei, é criança perdida, é mulher que descobre o amor, é velho que revive memórias.

E o mais curioso é que, enquanto você foge, na verdade, se encontra. Porque os livros não servem só para levar para longe, mas também para trazer de volta pedaços esquecidos de quem você é.

Eles não pedem passaporte, nem dinheiro, nem malas prontas. Só pedem que você esteja disposto a partir — mesmo sem sair do lugar.

E quando a última página chega, você percebe que não voltou o mesmo. Porque quem lê, sempre volta diferente. Sempre volta maior. Mais inteiro. Mais leve.

No fundo, os livros não são apenas um refúgio. Eles são um jeito bonito de lembrar que, mesmo quando não podemos ir… ainda assim podemos voar.

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