Resenha crítica e reflexiva
Perdoar. Setenta vezes sete.
A fórmula bíblica que atravessou séculos continua ecoando com força em nossos dias — não como uma equação matemática, mas como um convite existencial. Perdoar inúmeras vezes não é apenas sobre insistência, mas sobre escolha. Uma escolha difícil, por vezes dolorosa, quase sempre contrariada pelo orgulho, pela mágoa, pela sensação de injustiça que nos habita.
“70x7 = Difícil, mas necessário” é mais do que uma frase de impacto. É um diagnóstico sincero de um dilema humano. O difícil vem do instinto de defesa, do coração ferido, da memória que não apaga com pedidos de desculpa. O necessário surge do entendimento de que viver sem perdão é carregar um peso que não foi feito para se arrastar por uma vida inteira.
A proposta de perdoar repetidamente pode soar quase absurda num mundo onde a cultura do cancelamento, do afastamento e da polarização se alimenta do acerto imediato e da punição simbólica.
Mas a verdade — crua, honesta — é que não há cura sem perdão. Nem paz sem liberação.
Perdoar não é esquecer.
Não é fingir que não doeu.
Não é compactuar com o erro ou minimizar a dor.
É, antes, um movimento íntimo de se libertar do veneno que consome quem segura a raiva como se fosse escudo. É soltar a corda. Não pelo outro, necessariamente. Mas por si.
Perdoar é uma espécie de recomeço.
E o recomeço exige coragem.
Quem perdoa não é fraco — é valente.
Porque enfrenta os próprios fantasmas com olhos abertos.
Porque decide viver mais leve, ainda que o outro nunca peça desculpas.
“70x7 = Difícil, mas necessário” nos lembra que o perdão não é um fim. É processo. É lapidação.
É uma travessia que não tem mapa, mas tem direção.
E talvez a beleza da vida esteja exatamente aí: na arte de, mesmo machucados, ainda sermos capazes de amar, de soltar, de seguir.
Setenta vezes sete, se for preciso.
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