segunda-feira, 16 de junho de 2025

70x7 = Difícil, mas necessário

Resenha crítica e reflexiva

 

Perdoar. Setenta vezes sete.

A fórmula bíblica que atravessou séculos continua ecoando com força em nossos dias — não como uma equação matemática, mas como um convite existencial. Perdoar inúmeras vezes não é apenas sobre insistência, mas sobre escolha. Uma escolha difícil, por vezes dolorosa, quase sempre contrariada pelo orgulho, pela mágoa, pela sensação de injustiça que nos habita.

 

“70x7 = Difícil, mas necessário” é mais do que uma frase de impacto. É um diagnóstico sincero de um dilema humano. O difícil vem do instinto de defesa, do coração ferido, da memória que não apaga com pedidos de desculpa. O necessário surge do entendimento de que viver sem perdão é carregar um peso que não foi feito para se arrastar por uma vida inteira.

 

A proposta de perdoar repetidamente pode soar quase absurda num mundo onde a cultura do cancelamento, do afastamento e da polarização se alimenta do acerto imediato e da punição simbólica.

Mas a verdade — crua, honesta — é que não há cura sem perdão. Nem paz sem liberação.

 

Perdoar não é esquecer.

Não é fingir que não doeu.

Não é compactuar com o erro ou minimizar a dor.

É, antes, um movimento íntimo de se libertar do veneno que consome quem segura a raiva como se fosse escudo. É soltar a corda. Não pelo outro, necessariamente. Mas por si.

 

Perdoar é uma espécie de recomeço.

E o recomeço exige coragem.

 

Quem perdoa não é fraco — é valente.

Porque enfrenta os próprios fantasmas com olhos abertos.

Porque decide viver mais leve, ainda que o outro nunca peça desculpas.

 

“70x7 = Difícil, mas necessário” nos lembra que o perdão não é um fim. É processo. É lapidação.

É uma travessia que não tem mapa, mas tem direção.

 

E talvez a beleza da vida esteja exatamente aí: na arte de, mesmo machucados, ainda sermos capazes de amar, de soltar, de seguir.

Setenta vezes sete, se for preciso.


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