Há lugares que parecem saídos de um sonho.
Ou de um livro antigo.
Ou de alguma parte esquecida da infância.
A torre da colina era assim.
Alta, espiralada como os pensamentos que não terminam, feita de pedras coloridas pelo tempo e pela luz. Ao redor, o céu girava como um redemoinho encantado — uma dança de azuis, verdes e dourados que nunca era a mesma a cada dia. E mesmo quem já tinha passado por ali mil vezes, jurava que ela mudava de cor ao entardecer, como se tivesse humores próprios.
Diziam que a torre guardava o vento.
Não o vento comum, que sopra e vai embora. Mas o outro — o vento das ideias, das palavras não ditas, das lembranças que insistem em voltar. O guardião da torre era um velho de olhos pequenos e atentos, que acendia a luz da varanda toda noite, mesmo que ninguém mais parecesse precisar dela.
Ele dizia que luz boa não é a que mostra o caminho,
mas a que aquece quem está perdido no escuro.
Durante anos, a torre iluminou cartas não enviadas, despedidas adiadas, promessas sussurradas ao céu. Era uma espécie de farol das emoções silenciosas. As pessoas passavam por lá e sentiam vontade de ficar um pouco, nem que fosse só pra escutar o som do vento batendo nas pedras — um som que, curiosamente, parecia dizer o nome de quem ouvia.
Alguns achavam que era só ilusão. Outros, poesia.
Mas a verdade é que a torre continuava ali, firme, desafiando o tempo com sua arquitetura improvável e sua alma misteriosa. Talvez por isso ninguém a derrubasse, nem esquecesse completamente. Ela fazia parte de algo que não se nomeia, mas se sente — como saudade de algo que nunca aconteceu.
Na pressa dos dias, poucos olham pra cima.
Mas quem ainda sabe contemplar o céu, às vezes enxerga a torre.
E por um instante breve, sente que há no mundo um lugar que guarda vento, luz…
e aquilo que a gente quase perdeu dentro de si.
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