quarta-feira, 18 de junho de 2025

Aceleramos, ou só deixamos de reparar?

Outro dia, entre um café e outro, alguém me perguntou: “Você também sente que o tempo está passando rápido demais?” Sorri com aquele ar de quem já se fez a mesma pergunta, mais de uma vez, em silêncio. Afinal, quem nunca?


Mas não estamos falando do tempo que o relógio marca — esse, coitado, continua ticando com a mesma pontualidade de sempre. Também não é o calendário, com seus dias organizadinhos tentando nos convencer de que ainda temos tudo sob controle. O tempo que escapa é outro: é o tempo da alma, da memória, das histórias que a gente vive ou deixa de viver.

Quando somos mais jovens, a vida parece cheia de marcos — primeiras vezes que tatuam o coração. A formatura do ensino fundamental com seus abraços desajeitados. O ensino médio, essa espécie de novela adolescente onde tudo é exagero e verdade. O vestibular que tira o sono, o primeiro amor que bagunça tudo, o primeiro emprego que nos faz sentir adultos, ainda que com vontade de correr pra casa. Cada uma dessas experiências deixa uma marca nítida, um sinal de que passamos por ali. São âncoras de memória. São elas que nos ajudam a perceber o tempo.

Mas, conforme os anos passam, a vida vai se ajeitando num ritmo mais manso, quase repetido. Acordamos, trabalhamos, voltamos. Alguns sorrisos familiares, algumas pequenas rotinas. Poucas grandes surpresas. E, sem perceber, vamos deixando de registrar os dias. Não porque não sejam importantes, mas porque eles parecem iguais. O cérebro, esperto, só grava o que salta aos olhos ou ao coração. O resto, ele arquiva no fundo, sem alarde.

É aí que mora a sensação de aceleração: sem âncoras novas, sem histórias frescas, o tempo escorre como um rio sem curvas. Não é ele que corre mais depressa. Somos nós que deixamos de reparar, de criar, de se espantar. Somos nós que, às vezes, vamos nos acomodando na superfície dos dias, sem mergulhar.

Talvez a saída esteja em fazer diferente. Em tentar o novo, mesmo que pequeno. Em sair da rotina de vez em quando só pra lembrar que ainda estamos vivos. Marcar encontros inesperados, aprender um instrumento desafinado, cozinhar uma receita que nunca deu certo. Qualquer coisa que diga ao nosso cérebro: “Olha só, isso vale a pena guardar”.

Porque o tempo, esse velho conhecido, não corre nem devagar nem depressa demais. Somos nós que mudamos o passo. E, talvez, a pergunta mais honesta não seja se o tempo voa — mas se a gente ainda tem asas para acompanhá-lo.

Nenhum comentário: