“Às vezes, tudo que a gente precisa é desacelerar por dentro.”
Aurora sempre teve pressa.
Pressa de sarar, de resolver, de provar para si mesma que estava bem.
Como se a dor viesse com prazo. Como se o coração obedecesse relógio.
Mas naquela manhã, algo a fez parar.
Talvez tenha sido o cheiro do café recém-passado.
Ou o barulho da chuva fina no telhado.
Ou, quem sabe, a ausência de barulho dentro dela.
Era como se, pela primeira vez em muito tempo, o mundo lá fora não estivesse exigindo nada.
Ela caminhou até a janela e ficou ali.
Sem celular, sem pensar no que viria depois. Só… presente.
Foi então que entendeu: cura não é um evento. É um processo.
E mais do que isso — é um gesto de gentileza com o próprio tempo.
Nos últimos meses, ela vinha se cobrando por ainda sentir.
Como se estivesse atrasada para a própria vida.
Mas quem foi que disse que sentir é sinal de fraqueza?
Quem foi que ensinou que a dor tem que passar rápido?
Aurora percebeu que o que precisava não era seguir em frente a qualquer custo, mas se permitir ficar onde estava — por um tempo.
Respirar ali.
Acolher o que sentia.
E só depois… seguir.
Porque às vezes, a força está exatamente nisso: em não correr para fingir que está tudo bem, mas em ficar, com coragem, onde ainda dói — até que comece a doer menos.
E assim, sem pressa, sem cobrança,
Aurora fez um acordo silencioso com a própria alma:
“Eu não vou me apressar. Eu vou me cuidar.”
. . .
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