O que fica quando a gente vai …
Aurora parou diante da janela, como quem tenta alcançar um horizonte que já não está mais ali. O vento batia leve nas cortinas, e um silêncio antigo morava na sala. Era estranho pensar que, mesmo quando tudo muda, algumas ausências seguem ocupando espaço como se fossem presença.
Ela não sabia exatamente o que doía mais — se era o que foi, o que não foi, ou o que nunca pôde ser. Às vezes, sentia que carregava despedidas dentro de si como quem coleciona cartas não enviadas: todas com sentimentos inteiros, mas nunca lidos por ninguém.
Era nesses dias que ela entendia: há um tipo de saudade que não se cura, mas que ensina. Ensina a amar com mais urgência, a estar com mais inteireza, a deixar menos para depois. Porque tudo passa. E mesmo que algumas coisas fiquem — um cheiro, uma música, uma lembrança insistente —, as pessoas seguem, o tempo corre, e o amor, se não for vivido, evapora.
Aurora não sabia se estava indo ou ficando, mas sabia que precisava honrar as memórias com vida nova. Aprender a ser abrigo, mesmo depois de ter sido tempestade. E talvez fosse isso: a vida é o que a gente escolhe fazer com as saudades que ficam.
Ela fechou os olhos, respirou fundo e sorriu. Pela primeira vez em muito tempo, não doía tanto lembrar.
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