quarta-feira, 18 de junho de 2025

💘Coração de Recomeços: Parte V (CONTO)

Quando a dor vira jardim …

Naquela manhã, Aurora acordou mais leve. Ainda doía, claro — a dor não some como quem desliga um interruptor —, mas algo nela havia mudado. Era como se o chão, mesmo trincado, começasse a brotar flores entre as rachaduras.

Sentada na varanda com uma xícara de chá nas mãos, observava o mundo com olhos mais macios. Já não havia pressa. Nem tanta cobrança. Pela primeira vez, permitiu-se simplesmente estar. Respirar. Existir.

Ela entendeu, ali, entre o silêncio das folhas e o calor brando do sol, que não era preciso vencer a dor — era preciso acolhê-la. Conversar com ela. Saber o que veio ensinar. Porque toda ferida tem uma história, e toda história quer ser ouvida antes de cicatrizar.

Foi assim que Aurora começou a regar os pequenos jardins dentro de si. Começou com um gesto: escrever o que sentia. Depois veio a música, os passeios sozinha, as risadas sem razão. E, aos poucos, as sombras se tornaram menos ameaçadoras, como se ela tivesse aprendido a dançar com elas.

Não era felicidade plena. Era algo mais profundo. Uma paz que vem de dentro, depois que a gente aceita que viver é mesmo um emaranhado de perdas, recomeços e beleza escondida.

E ali, entre as flores que cresciam sem alarde, Aurora renascia — pela quinta vez.

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