Onde cabem os dias bons …
Aurora acordou com vontade de pão fresco. Era domingo. E fazia tempo que ela não tinha desejos simples como esse. Vestiu um casaco largo, prendeu o cabelo de qualquer jeito e saiu. Sem maquiagem, sem pressa, sem roteiro.
O sol da manhã batia nos muros descascados da cidade como quem sussurra que o novo começa onde o coração se permite recomeçar. Aurora andava devagar, quase colecionando detalhes: uma criança com um girassol de plástico, uma senhora alimentando pombos, um casal trocando risos com os olhos fechados.
Tudo era tão comum. E, ainda assim, era extraordinário.
Na fila da padaria, ela encontrou uma moça chorando baixinho. Ninguém parecia notar. Aurora, então, ofereceu um sorriso — não daqueles prontos, mas um sorriso inteiro, com presença e verdade.
A moça retribuiu. Um pouco tímida, um pouco grata. E aquilo bastou. Porque Aurora sabia agora que às vezes a gente não salva o outro com palavras, mas com humanidade.
Na volta pra casa, segurava o saquinho quente com o pão que tanto queria. E sentia, dentro de si, uma coisa boa que fazia tempo que não visitava: contentamento.
Era isso. Aurora estava aprendendo a morar nos dias bons. Mesmo que ainda houvesse sombras. Mesmo que o passado ainda existisse. Porque, no fim, é sobre isso: cultivar paz nos pequenos instantes e fazer morada dentro da própria alegria.
E, nesse domingo qualquer, ela sentiu: estou exatamente onde deveria estar.
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