As cartas que não enviamos …
Era fim de tarde quando Aurora encontrou a caixa. Estava no fundo do armário, entre roupas antigas e lembranças que ela pensou já ter deixado para trás. Uma caixa de papelão com laço desbotado e cheiro de coisa guardada há tempo demais.
Dentro, estavam cartas. Algumas dela, outras para ela. Escritas em papéis amarelecidos, com letras tortas, saudades explícitas e sentimentos guardados entre linhas que nunca chegaram a destino algum.
Aurora sentou no chão. E leu. Uma por uma.
Lá estava a adolescente que sonhava alto demais. A jovem que amou demais, sem se amar o suficiente. A mulher que tentou caber em espaços pequenos só pra não perder alguém. E, entre essas, uma carta que nunca foi enviada. Endereçada a si mesma.
“Querida Aurora,
Se um dia você esquecer o quanto é forte, lembre-se de tudo o que já sobreviveu.
Se um dia achar que está sozinha, olhe pro céu — você é feita da mesma matéria das estrelas.
Cuide-se. Escolha-se. E nunca se esqueça: você é mais do que tudo que tentaram te diminuir.”
Ela ficou ali, por minutos que pareceram horas, como quem reencontra não só um papel, mas um pedaço inteiro de si.
Ao fim, não chorou. Sorriu.
Guardou a carta novamente — mas dessa vez, no coração.
E entendeu que há palavras que não precisam ser enviadas para cumprirem seu papel. Algumas existem só pra lembrar a gente de quem somos quando o mundo tenta nos fazer esquecer.
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