Às vezes, a gente vive assim mesmo: pendurado entre o que passou, o que está acontecendo e o que já nem importa mais.
O ontem carrega lembranças como quem carrega malas pesadas em uma estação vazia. Há coisas bonitas ali — sorrisos guardados, cheiros de infância, músicas que voltam de repente —, mas também há culpas, medos antigos e histórias que não terminaram direito. O ontem nos visita sem pedir licença, senta no sofá da memória e pergunta: “lembra disso?”. E a gente lembra. Mesmo quando não quer.
O hoje, por sua vez, exige pressa. Cobra respostas rápidas, produtividade, presença em todas as redes, decisões urgentes. É o relógio apressado, a agenda cheia, o telefone que não para. Às vezes parece que viver o agora virou sinônimo de estar sempre correndo — como se o tempo fosse um inimigo a ser vencido. Mas o agora também é uma chance. De respirar fundo. De dizer sim com vontade. De escolher o que vale a pena continuar carregando.
E o tanto faz?
Ah, o tanto faz é o território da exaustão emocional. Quando tudo parece demais ou de menos. Quando não dá vontade de lutar por nada, nem de fugir. É quando o coração, cansado de extremos, se recolhe. E ali, no espaço do tanto faz, mora um alerta: talvez a alma esteja pedindo silêncio, pausa, aconchego.
No fundo, a gente precisa aprender a visitar o ontem sem morar nele, viver o hoje com mais leveza e reconhecer o tanto faz como um pedido de cuidado.
Porque viver de verdade é atravessar esses tempos todos com delicadeza.
É saber que a vida acontece nesse entre — entre memórias, escolhas e dúvidas.
Entre o que passou, o que pulsa e o que cansamos de fingir que nos afeta.
Entre o ontem, o hoje e o tanto faz,
a gente vai se descobrindo.
E, com sorte, se encontrando.
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