🎧 Nem tudo que a gente ouve, houve.
É assim mesmo, com esse jogo de palavras que confunde o ouvido e cutuca o entendimento.
Porque ouvir é fácil. A gente ouve o tempo todo — vozes, ruídos, opiniões, conselhos, julgamentos, histórias atravessadas que chegam sem pedir licença.
Mas… houve?
Ou seja: aconteceu mesmo?
Ou foi só mais uma versão aumentada, dramatizada, distorcida, passada de boca em boca até perder a verdade pelo caminho?
Tem aquele ditado antigo, que vive em varandas e rodas de chimarrão:
“Quem conta um conto, aumenta um ponto.”
E aumenta mesmo.
Porque a memória é seletiva, o ego adorna, e a vontade de ser ouvido às vezes é maior do que o compromisso com a realidade.
Daí a diferença. Entre ouvir e haver.
Entre o que se escuta e o que de fato existiu.
Acontece muito com fofocas, com histórias mal contadas, com amores mal resolvidos. Alguém diz que viu, que soube, que sentiu. Mas, se puxar o fio com cuidado, descobre que não houve nada. Só houve ruído. Suposição. Julgamento.
E é por isso que precisamos escutar com o coração atento. Não acreditar em tudo que chega aos nossos ouvidos. Porque o som pode ser alto, mas a verdade costuma ser discreta. E, muitas vezes, silenciosa.
Num mundo onde todo mundo fala demais, grita demais, opina demais — talvez o mais sábio seja cultivar o silêncio de quem escolhe não espalhar o que não houve. E guardar o ouvido como quem guarda uma casa sagrada: só entra o que faz sentido, o que tem peso de verdade, o que carrega respeito.
Porque entre o verbo ouvir e o verbo haver, há um espaço grande demais para a sensibilidade.
E é nesse espaço que mora o bom senso.
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