O lugar onde a gente se encontra …
Aurora decidiu viajar. Não por fuga, mas por vontade de respirar novos ares — e testar os novos contornos que a alma tinha desenhado dentro dela.
Escolheu um lugar pequeno, rodeado de montanhas e silêncio. Hospedou-se numa casa simples, com varanda de madeira, cheiro de mato e uma rede que balançava com o vento.
Ali, entre o som dos pássaros e o cheiro de café recém-passado, ela finalmente se ouviu por inteiro.
Durante os dias que passou ali, escreveu cartas que nunca enviaria, leu livros antigos, fotografou nuvens e aprendeu a cozinhar algo novo só por prazer. Riu com desconhecidos, chorou sozinha, cantou baixinho enquanto lavava a louça. E, numa tarde qualquer, enquanto o sol se escondia atrás das colinas, ela entendeu:
Não precisava mais de grandes explicações. Nem de consertar tudo. Nem de compreender por que certas pessoas se foram ou por que outras jamais chegaram.
Ela havia se tornado seu próprio lugar seguro. Seu abrigo. Seu lar.
E foi ali, no meio de lugar nenhum, que Aurora percebeu: o ponto final, às vezes, não é o fim — é só uma vírgula pra respirar. O que importa mesmo é o que a gente faz com o tempo entre um silêncio e outro.
Na volta, levou pouca bagagem. Só aquilo que realmente cabia: a leveza de ser quem se é, e a coragem de continuar.
Aurora nunca mais foi a mesma. E era exatamente isso que ela esperava.
… porque o fim de uma travessia é sempre o começo de outra.
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