“É parte da cura o desejo de ser curado.”
A frase de Sêneca, tão antiga e tão atual, nos confronta com uma verdade simples e poderosa: ninguém se cura se não quiser se curar.
Em tempos de soluções rápidas e respostas prontas, muita gente espera a cura como quem espera a chuva — parada, de braços cruzados, torcendo para que algo mude sem que nada seja feito.
Mas a cura — seja ela do corpo, da alma ou da história — começa bem antes do remédio, da terapia ou da conversa.
Ela começa com vontade.
É preciso querer sarar.
Desejar sair do lugar escuro.
Decidir, por dentro, que já basta de carregar dores como medalhas, mágoas como troféus, culpas como heranças imutáveis.
E não é fácil, não.
Porque curar-se exige trabalho.
É enfrentar fantasmas, rever verdades, refazer caminhos.
Exige humildade pra reconhecer que algo está ferido.
E coragem pra cuidar do que machuca, mesmo quando doer ainda mais no processo.
O desejo de ser curado é o primeiro passo porque ele abre uma fresta:
uma brecha de esperança.
Um espaço novo onde a mudança pode começar a agir.
Às vezes, esse desejo surge no silêncio da exaustão.
Outras vezes, no grito de alguém que não aguenta mais fingir que está bem.
E tudo bem.
A cura não tem um só jeito de começar — mas sempre começa com uma escolha interna.
Sêneca, com sua sabedoria estoica, nos lembra que a cura não vem só de fora pra dentro.
Ela precisa, antes, de um chamado de dentro pra fora.
De uma alma que sussurra — mesmo cansada —:
“Eu quero melhorar. Eu quero viver diferente.”
E só quem tem esse desejo, mesmo que frágil, já deu o passo mais difícil.
Porque a vontade de curar-se já é, em si, um sinal de cura.
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