segunda-feira, 2 de junho de 2025

O Relógio de Pulso

Uma história no banco da praça

Em um dos bancos mais antigos da praça, estava sempre o senhor Álvaro, ajeitando o relógio de pulso a cada minuto. Era um gesto quase mecânico, como se ele tentasse, ali, controlar o próprio tempo. Todos sabiam que o relógio não funcionava há anos — mas Álvaro insistia.


Certa tarde, uma jovem sentou-se ao seu lado, aflita com o atraso no trabalho. Ele olhou para o pulso, sorriu e disse:

— Esse relógio me lembra que o tempo é uma ilusão. Olhe ao redor.


Ela ergueu os olhos e viu a praça pulsando: casais caminhando de mãos dadas, crianças brincando de esconde‑esconde, vendedores oferecendo pipoca. Em cada rosto, um instante único.


— O tempo passa — continuou Álvaro —, mas a vida acontece agora. Não no relógio, mas no que seus olhos conseguem ver.


Naquele instante, ele tirou o relógio, estendeu-o à jovem e completou:

— Leve-o. Talvez, quando perceber que não precisa mais ajustar o tempo, ele volte a funcionar.


Ela aceitou o presente e, ao se levantar, olhou discretamente para o banco vazio. Álvaro permaneceu ali, olhando a praça, sereno — em paz com o tempo, que já não precisava mais marcar.

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