domingo, 15 de junho de 2025

Os dias de neblina

A vida segue. E nisso não há escolha. Mesmo quando tudo parece suspenso no ar, mesmo quando o tempo desacelera por dentro da gente, ela não para — apenas muda o ritmo, como quem respeita o silêncio de um luto ou a pausa de um recomeço.


A gente aprende, sim, com as alegrias. Com o riso que explode sem aviso, com o vento que bagunça o cabelo num fim de tarde bonito, com o abraço que parece casa. Mas é nas horas de angústia que o aprendizado toma forma mais profunda. É ali, no intervalo entre o que éramos e o que seremos, que as sementes da transformação se colocam. É quando perdemos que começamos a enxergar o que realmente importa.


Os dias de sol são mágicos. Iluminam, aquecem, nos fazem acreditar que tudo vai dar certo — e muitas vezes dá mesmo. Mas os dias de neblina… ah, esses ensinam outro tipo de sabedoria. Eles nos obrigam a desacelerar, a prestar atenção em cada passo. Não dá pra correr quando não se vê o caminho. A pressa vira risco. E então, a gente aprende a caminhar com mais atenção, mais cuidado, mais verdade.


Na neblina, o mundo se cala. As cores se apagam, os sons se embaralham, as distâncias se escondem. E nesse cenário quase mudo, é a intuição que toma a frente. É ela quem guia. E quando se anda guiado pela intuição, os olhos não estão apenas no rosto, mas também no peito.


Talvez por isso, depois de atravessar dias cinzentos, a gente saia do outro lado mais inteiro. Com feridas, sim — mas com novas certezas. Descobre que pode cair e levantar, que o chão ensina, que tropeços são formas de olhar melhor por onde andamos. E que ninguém é o mesmo depois de caminhar por dentro de si.


Os dias claros encantam. Os dias nublados ensinam. E, entre um e outro, a vida segue… como deve ser: nos moldando com luz, sombra, tropeço e coragem.


Nenhum comentário: